O livro das Noivas - 1929

O livro das Noivas

Almeri Espíndola de Souza

Este é um fragmento do “Livro das Noivas”, escrito em 1929 pela  Julia Lopes de Almeida.

“Uma pelle sã, lisa sob um ligeiro "maquillage" é muito mais

attrahente que uma pelle estragada, dissimulada sob uma camada de pó ou de "rouge".

Existem uns pequenos pulverizadores a vapor que permittem a própria pessoa fazer uma bôa limpeza da pelle, de 8 em 8 dias, ou quinzenalmente. Algumas gottas de benjoim em água de rosas, formam uma mistura que convém ás pelles de oleosidade media. Para as pelles mais oleosas, o limão produz  um excellente effeito. Projecta-se o liquido na pelle sob a forma de vapor e com uma bola de algodão com a qual se esfrega o rosto amassando-o levemente, sempre subindo, desembaraça-se a pelle de suas impurezas. Quando o algodão não ficar mais engordurado a pulverização está terminada. E' preferível deixar a pelle descansar algumas horas antes de empoar novamente. Fora essas pulverizações que, repito, não se devem fazer freqüentemente, existem tônicos, loções adstringentes, que servem para lavar o rosto todas as noites e que substituem vantajosamente os sabonetes communs que muitas vezes são nocivos á pelle. Os cold-creams preparados especialmente são também recommendados, seguidos de uma ligeira applicação de uma loção adstringente;loção a base da essência para limpar a pelle - loção mais medicinal tendo por base o ether para as pelles irritadas loção tônica especial para pelles oleosas.

Na casa tudo deve funccionar sempre bem. Nada de portas que guincham ou emperram,de torneiras que fecham mal, de moveis que não assentam bem no chão. E' nestes detalhes que está o real

segredo do grande conforto.

Não deve haver economia em matéria de luz. Lâmpadas fortes e sempre novas. As velhas ficam escuras e gastam mais energia. Deixemos de lado os "abat-jours" rendiIhados e bordados ou pintados com figurinhas. Velemos as luzes com largos vidros foscos, evitando que a vista encontre directamente qualquer foco luminoso.

0 bibeló precisa ser irremissivelmente condemnado.

Na. habitação só deve entrar,em geral, o ornamento útil.

As prateleirinhas, os bichinhos,as figurinhas, tudo são coisas de um passado complicado.Não têm, realmente,razão de ser”.

         Um verdadeiro espetáculo. Até a grafia da época é espetacular.

         E a surpresa veio das verdades que continuamos a defender. Até acho que quase todas. Se pensarmos na higiene, coisa que na época não era considerado usual nem necessário. Muitas mortes teriam sido evitadas se houvesse higiene.Haveremos de perceber o seu valor.

         A maquiagem feita fora do contexto continua abominável até hoje. Uma mulher que põe perfume francês para ir na academia deixa a platéia enjoada.Ou, uma que vai na festa  chique sem pintar as unhas, sem uma maquiagem ou sem salto está na boca das outras mulheres, no mínimo.

         Adorei a recomendação de que se evite coisas desnecessárias dentro de casa, tais como bibelôs e outras tralhas inúteis. Mais moderno que isso? Só I pad!

         O recato das senhoras casadas me tocou profundamente. As moças seriam perdoadas se cometessem algum deslize, mas as casadas cairiam na boca do povo. Isto, no meu modo de ver, cai no pecado de ter prazer pelo sexo. Alguém que desfruta do prazer da cama, têm de punir-se com o recato. Então, os preconceitos que apareceram por lá, também aparecem por aqui.

         O mais inusitado mesmo, foi a coragem da Julia ao escrever este livro. De resto, apenas as vantagens da revolução industrial e da evolução tecnológica, e, muito pouco evoluímos.