A
boneca de pano
Mark acompanhava atento os movimentos da agulha de crochê
tunisiano que eu usava para encher de fibra as partes mais finas da boneca. Quando
eu larguei o primeiro braço ele esticou a patinha e quis saber o que era. O
bracinho rolou e caiu no chão. Ele pulou junto. Fui mais rápida que ele e o
apanhei primeiro. Ele voltou e, com aqueles olhos redondos, acompanhava cada movimento
das minhas mãos e da agulha. Enchi as pernas, o corpo, e a cabeça da boneca. Quando ficou
pronta ele deu um bote sobre ela e a tomou-a com sua mão boba e foi para o chão
jogar bola com a futura cabeça da boneca da Isabela, que eu estava levando uma
surra para fazer. Busquei na internet, achei um “como fazer bonecas de pano –
passo a passo”.
Desenhei os moldes. A
impressora está de relações cortadas com o computador. Não se conversam. Desenhar,
para mim, é uma missão pior do que fazer rapel. Mas o que não se faz por uma
neta? Desenhei os braços, as penas, o
corpo e a cabeça. Fiz o molde em papel. Pus sobre o popelina branco e cortei,
costurei. Virei do outro lado. Esta é uma das partes mais difíceis do trabalho.
Aprendi na internet a virar com uma agulha de crochê tunisiano, que é longa
como a de tricô e tem o gancho na ponta como a de crochê.
As partes do corpo prontas,
juntei-as e coloquei sobre a banqueta, meio escondidas em baixo do resto do tecido.
Mark inconformado, saiu
procurando a boneca em pedaços, derrubando o pote com botões de aço para roupas
que estão na caixinha sobre a bancada no atelier, fazendo um barulhão. Só no dia seguinte vi a mensagem da vizinha de
baixo: que barulhão horrível! Acho que vão derrubar o prédio. Eu já estava
recolhida sob meu edredom quentinho.
Volto da aula de espanhol, do
almoço, da busca nas lojas pelo presente para a Isabela, louca para continuar a
confecção da boneca. Mas não deu tempo. Passou a tarde e à noite já andava lá pelo meio quando
cheguei em casa para continuar o brinquedo.
Eu havia passado a tarde
pensando nas roupas que eu faria para a boneca. Nas botas de feltro marrom com um
cordão zagueado na frente. No chapéu que eu faria para sua cabeça redonda.
Larguei a bolsa, tirei o
sapato, me enrolei no cachecol – fazia 11 graus – e sentei no lugar onde estava
fazendo a boneca e onde a havia largado escondida sob o tecido.
Só achei o corpo. Na longa busca
pela casa achei a cabeça escondida atrás de uma poltrona. Ficou uma perna
também. Mas os braços e a outra perna, só quando chegar a equipe de buscas. Ele
sumiu com meu brinquedo!
Passados uns dois meses, a nova faxineira encontrou a perna que faltava, depois que eu já havia feito outra para terminar a boneca. E perna estava camuflada embaixo de uma poltrona, que eu havia arrastado para lá e para cá, mas que a astúcia do Mark permitiu escondê-la, não sei como, em baixo da poltrona.
Passados uns dois meses, a nova faxineira encontrou a perna que faltava, depois que eu já havia feito outra para terminar a boneca. E perna estava camuflada embaixo de uma poltrona, que eu havia arrastado para lá e para cá, mas que a astúcia do Mark permitiu escondê-la, não sei como, em baixo da poltrona.
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