O vento sopra pontual, como o fez em todos os novembros de que me lembro. Assovia. Sacode tudo. Levanta poeira, desalinha os meus cabelos.É o vento de finados, dizem uns. Mas o dia de finados já se foi, e ele continua aqui, dizendo que é mais duradouro que aquele dia, mais resistente que eu. Sim, porque, eu que logo ficarei mais velha, estou cada dia menos duradoura. Logo farei 61 anos. Quantos mais farei? Não há como não pensar. Sempre pode ser o último. O último encontro com as irmãs, com as sobrinhas, com os filhos. Com as amigas queridas de toda a vida. Mas no ano seguinte a teimosia vence e cá estamos de novo comemorando mais um aniversáro de nascimento. Ou não. Mas o vento, ah o vento, ele com certeza estará aqui garboso e presente, desmanchando os penteados, varrendo os sacos de plástico que os irresponsáveis jogam no gramado. Cantamos parabéns, tomamos chá, contamos nossas histórias. Encontro de velhas é assim: lembrarnças e lembranças. Minhas irmãs sempre se emocionam, afinal ...