Dona Josefa e os Girassóis
Dona Josefa era o nome da minha avó. Eu não a conheci, mas pelo pai que tive, posso imaginá-la uma mulher muito afetuosa e forte. Hoje a deputada Erika Kokay me fez chorar. A vida vai andando para o seu fim, e os nossos ancestrais vão ficando cada vez mais próximos de nós. Por isso a emoção que me derrete nesta hora. A deputada dizia que a Dona Josefa, uma agricultora do MST, aquela organização social que produz os alimentos orgânicos de que tanto gostamos, sem venenos, produzidos com o amor que só os puros sabem fazer. Pois Dona Josefa dizia que o girassol é uma flor que procura o sol, e a ele se volta para que esteja sempre de frente à luz. Quando não tem sol, a flor se vira para outra flor, para dela buscar a energia de que precisa para viver. E elas vão se olhando e se mantendo. É como se se dessem as mãos. E sugere que sejamos girassóis. De mãos dadas para que a anergia não se dissipe. Agora, que o império esta desmoronando, como aquele castelo de areia que a Valentina e a Isabela fazem na beira do mar, grudemos na mão um do outro. O bem precisa vencer. Estamos diante de uma revelação bárbara, onde o governo, contra o qual tanto lutamos, além de destruir cada tijolo da nossa construção de mais de 500 anos, envereda para uma seara da qual temo até falar. Milicias, matador de aluguel, armamento pesado, cidadãos armados, são coisas que não combinam com amor, com mãos dadas, com afetos, com compartilhamento das riquezas. Precisamos dar as mãos. Precisamos ser girassóis para resistirmos e assim garantir que o bem vencerá. O Lula esta preso para que este estado de coisas se desenvolvesse. Pois bem, chegamos rápido demais a um buraco, do qual ainda podemos emergir. A reforma da previdência, que de reforma nada tem, é a destruição do maior programa de proteção social que existe no país. Não podemos deixar as riquezas se agruparem nas mãos de meia duzia de milionários. O pais só cresce como nação se houver compartilhamento das suas riquezas. Para que haja consumo, para que haja saúde, dignidade e vida. Não podemos prescindir disso. As riquezas brasileiras são nossas. E delas não abriremos mão. Nos damos as mãos, tal como o girassol da dona Josefa. E assim seremos fortes. O "mostro é grande e pisa forte" (canção Solo le pido a dios, de Mercedes Sosa). E nós, os mortais da bancada de baixo, temos de estar de mãos dadas para formarmos o grande cordão da resistência. Que Deus nos dê esta sabedoria e, que este amor ao próximo, só cresça em nós. Salve Dona Josefa do MST, salve dona Josefa Fernandes de Andrade, minha avó. Pronto, encontrei o nome para o personagem do meu próximo livro: Josefa!... "solo se lpido a dios, que injusticia no me sea indiferente, ...es un monstro grande y pisa fuerte sobre la pobre inocéncia de la gente"!
Eu não sei se todo livro tem uma história, mas penso que sim. Quando começamos uma oficina literária, a primeira coisa que os professores costumam fazer é nos pedir que criemos um personagem. Ele deve ter um nome, cor, idade, (aproximada, pelo menos) e algumas características. Isso nem sempre é fácil. Mas, às vezes nos cai do céu. Pois neste ano, vejam o que me aconteceu: Eu estava procurando música na internet, num daqueles dias tristes da política do nosso sofrido país,quando cheguei num the voice da Espanha. Lá um cigano francês cantava "Ne me quitte pas" , acompanhado de um violão flamenco, de arrepiar o pelo. Ouvi-o uma, duas, vinte vezes ou mais. Pesquisei sua vida. Ele é um bailarino de "batchata", uma nova e moderna dança que já tem até por aqui. Vincent Lukas o seu nome. Escrito em francês "Loukas". `Pura sedução. Todo ornado com ouro, no pescoço, nos dedos. Um brinco de crucifixo na orelha, tudo delicadamente combinava com o moreno. Vincent. Eu queria escrever sobre o amor. Continuo vendo noticias na internet e encontro uma entrevista da Erika Kokay, uma deputada federal a quem admiro muito. Ela entrevistava uma senhora de chapéu grande, uma agricultora daquelas que sabe tudo da terra, das plantas e sementes. E a senhora lhe dizia: os girassóis se viram para o sol para deles buscar a energia de que precisam. E, se não tiver sol, eles se viram uns para os outros e se retroalimentam, se fortalecerem. O nome desta senhora é Josefa. Nome de minha avó paterna. Uma india (bugra como dizia meu pai) de cabelos escorridos, longos e negros. E a esta eu sempre quis homenagear nos meus escritos, embora nunca o tivesse feito. Pronto. Estava formado o meu casal de personagens.Um cigano francês e uma índia brasileira. O resto desta história você poderá saber lendo "Revoada de contos".
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